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08/05/2013

COMO LIDAR COM O ESTRESSE EM SALA DE AULA?


Retirado do site do jornal Folha Dirigida.

Última Atualização - 06/05/2013
Como lidar com o estresse em sala de aula?
Por Thiago Lopes - thiago.souza@folhadirigida.com.br

Professores participam de evento que teve como temática principal uma discussão sobre estresse em sala de aula: problema tem preocupado educadores nos últimos anos

Cobranças e responsabilidades são normais em qualquer ambiente de trabalho. Entretanto, quando se trata de educar pessoas e formar cidadãos, as exigências são ainda maiores. É o caso dos profissionais do magistério, que são apontados como uma das maiores vítimas do estresse profissional. Além da complexa tarefa de educar, inerente à própria profissão, o docente precisa se preocupar com uma série de questões, como o trato com pais, alunos e outros profissionais do ambiente escolar em que vive.

Planejar as aulas, se preocupar com o aprendizado dos alunos, controlar turmas lotadas, elaborar e corrigir provas e trabalhos, participar de reuniões de pais e com a direção escolar e ainda encontrar tempo para manter-se constantemente atualizado. Tudo isso somado à pouca valorização, baixos salários, carga horária elevada, em razão da necessidade de trabalhar em várias escolas, e falta de estrutura nos colégios, principalmente nas redes públicas, pode contribuir para tornar o dia a dia dos professores ainda mais difícil de suportar.

"O que mais vemos são professores com problemas decorrentes do estresse. O índice de licenças médicas é altíssimo, e não é por causa de perna ou braço quebrado. Eu não sou médico, mas consigo visualizar quando meus colegas não estão em condições psicológicas de entrar em sala de aula, pois não conseguem lidar com esses problemas. Até aqui, tenho conseguido canalizar o estresse, mas não é todo mundo que consegue", alertou Francisco Carlos da Costa Mendonça, professor de História no Ciep 127 Frei Acursio Aloisio Gonzaga Bolwer.

Uma das principais consequências do estresse gerado no ambiente escolar é a síndrome de Burnout, um distúrbio psíquico de caráter depressivo, precedido de esgotamento físico e mental intenso. No entanto, existe uma série de problemas decorrentes desta situação. "Tenho colegas que se afastaram e se aposentaram mais cedo porque desenvolveram pressão alta, diabetes emocional. Conheço professores que já sofreram infarto, depressão e bipolaridade, sem contar os casos de agressão por parte dos alunos. Uma colega não consegue retornar à escola, pois sempre que precisa ir até lá aparecem uma série de sintomas que o médico já sinalizou como Burnout. Ela tem depressão, diarreia, sudorese, chora, etc. Enquanto o problema não for resolvido, ela não conseguirá retomar suas atividades profissionais normalmente", contou Paula Antunes, professora de Sociologia da rede estadual, revelando que conhece casos de professores que chegam a fazer 80 tempos semanais, trabalhando aos sábados, domingos e feriados, inclusive.



"Quem conseguir, deve procurar outro foco e não ficar bitolado na escola. Acho importante aproveitar os momentos de lazer, ir ao cinema, teatro, museu, praia, sair com a família, praticar esportes e outras coisas para relaxar um pouco. É isso que tento passar para colegas que estão nessa faixa de estresse acentuada. Às vezes, por mais que achem o salário baixo, é preciso colocar na balança", aconselhou.

Na opinião de Vanessa Seabra, professora de Educação Física e diretora adjunta do Colégio Estadual Conde Pereira Carneiro, o fato de os docentes trabalharem em várias escolas tem forte influência no estresse. "A consequência é uma carga muito extensa e dificuldades de locomoção de uma instituição para a outra. É complicado pela pontualidade, pois nem os gestores nem os professores gostam de perder tempo de aula. Então, por mais que tenham automóvel, o trânsito atrapalha e acabam enfrentando problemas para chegar aos locais", afirmou.

O comportamento dos alunos também gera um grande desconforto para a saúde mental dos educadores. Segundo Silvana Rocha Garcia, professora de Artes e Filosofia e coordenadora pedagógica do Colégio Estadual Nicolao Bastos Filho, os professores precisam entender as diferenças e buscar o diálogo ao invés do confronto. "Além de aprender a lidar com tantos jovens e crianças que possuem opiniões distintas, é preciso reconhecer o meio social em que vivem. Saber que podem estar passando por algum problema série e tentar estabelecer uma troca. É um acordo, não adianta confrontar. De um modo geral, o professor ainda parece estar em guerrinha com os alunos. Discutir e bater de frente, não vai resolver nada. Temos que conversar e buscar o entendimento", comentou, acompanhada por Aparecida Gaspar, professora de Disciplinas Pedagógicas, responsável por orientar diretores de escolas.

"Professor está precisando de uma formação especial para lidar com essa juventude. Se não tiver, vai viver estressado, porque os jovens de hoje não são como os de alguns anos atrás e os profissionais do magistério ainda não estão preparados para lidar com essa realidade", completou.


Especialistas defendem diálogo e divisão de tarefas

Vários educadores se reuniram, no dia 30 de abril, no Centro Universitário UniCarioca, para participar do II Fórum UniCarioca de Gestão Educacional do Ensino Médio, com o tema "Estresse Profissional: como lidar com as situações estressantes mantendo o autocontrole". Ao longo das palestras, os especialistas falaram sobre a importância de levantar o debate sobre o assunto e pediram mais suporte para as atividades docentes.

De acordo com Arthur Vianna Ferreira, docente do curso de Licenciatura em Pedagogia da UniCarioca, o primeiro passo é fazer com que os professores entendam que não podem dar conta de tudo sozinhos, precisam chamar outros profissionais da educação para trabalhar junto. "O docente que se autoriza a não saber tudo, mas sim em ter interesse por tudo, quando não souber administrar certa situação, vai chamar outras instâncias para partilhar o trabalho. Precisamos buscar no sistema um espaço para poder desenvolver parcerias. Esse é o grande ponto que precisamos pensar", falou, ressaltando que isso não depende apenas dos professores. "As escolas e os gestores das redes públicas precisam oferecer um suporte para que os docentes entendam esse processo e possam colocá-lo em prática", disse o especialista, que é mestre e doutor em educação.

Para Regina Célia Pereira de Moraes, professora das áreas de Administração, Comunicação e Pedagogia da UniCarioca, estresse é uma consequência da multiplicidade de valores que existem dentro do ambiente escolar, onde cada um tem sua própria forma de ver o mundo e enfrentar diferentes situações. "São redes de diversas origens, professores, alunos e comunidade, que se juntam para formar as pessoas. Então, resiliência, paciência, tolerância e respeito mútuo são essenciais para um bom trabalho. Todos que participam de alguma forma das instituições de ensino e até mesmo a sociedade, em um contexto mais geral, devem entender o quanto somos diferentes e o quanto necessitamos nos comunicar", comentou.

No entanto, não são apenas os docentes que sofrem. Professora do curso de Pedagogia da UniCarioca, integrante do Núcleo Docente Estruturante de Pedagogia e com experiência no ensino fundamental da rede pública, Lúcia Venina de Mattos Almeida acredita que os diretores das escolas possuem um papel fundamental na tentativa de amenizar o problema. "Acho que a figura central da escola é o seu diretor. Se ele atuar da maneira correta, conseguirá diminuir o estresse do corpo docente consideravelmente. O professor pega uma turma e não tem apoio para planejar as aulas, tem que planejar em cima do nada. Então, se puder conhecer a turma, sua unidade e passar por um trabalho de total e completa ambientação, será outro profissional", opinou.

Martha Aracy Lovisaro do Nascimento, professora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e mestre em Psicologia Escolar, defende uma atenção especial para que os docentes não cheguem ao seu limite. "Precisa de uma conexão, ser ouvido, sentir que tem um espaço de respeito e consideração pelo que faz, algo que está bem defasado atualmente. Há um desrespeito muito grande dos pais e alunos em relação ao professor e do professor em relação aos alunos. É uma bola de neve", salientou.


Wilson Risolia diz que rede estadual possui setor para saúde do professor

O estresse é um mal que assola professores em quaisquer níveis e segmentos de ensino. E em uma rede de massa, como a estadual do Rio de Janeiro, que possui mais de 1 milhão de alunos com os quais trabalham mais de 80 mil docentes, este é um assunto que desperta interesse não apenas da Secretaria Estadual de Educação, como também da representação dos profissionais do magistério.

Para tentar reduzir o impacto do estresse junto aos educadores da rede estadual, o secretário de Estado de Educação do Rio de Janeiro, Wilson Risolia, criou, há quase um ano, uma área de saúde e bem estar para prestar auxílio aos docentes. Porém, na opinião de integrantes do Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação do Rio de Janeiro (Sepe) e União dos Professores Públicos no Estado-Sindicato (Uppes), a medida está longe de ser suficiente. Os sindicalistas argumentam que a questão é complexa e envolve demandas relacionadas à melhoria das condições salariais e estruturais das escolas.

Segundo Risolia, cada regional, a partir de junho, receberá uma equipe para trabalhar o assunto diretamente. Além disso, afirmou que há uma parceria com o Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, que oferece treinamento em saúde mental e mediação de conflitos. "Existe um paradoxo: temos jovens do século XXI, professores do XX e escolas do XIX. Essas coisas não combinam e, por si só, geram conflito. Não dá para resolver em apenas uma frente. É um tema complexo que precisa ser debatido por gente que se propõe a resolver", falou.


Sindicatos cobram melhor remuneração e estrutura

Apesar de achar a iniciativa interessante e elogiar o interesse do secretário, a presidente da Uppes, Teresinha Machado, entende que deveria haver uma solução que levasse em conta o tamanho das instituições de ensino e o número de alunos atendidos. Ela acredita, por exemplo, que as escolas maiores deveriam contar com o apoio de profissionais especializados, enquanto as menores seriam atendidas em um polo específico.

"O magistério sempre foi uma carreira com remuneração abaixo de sua importância, mas agora está bem pior. Os professores não conseguem sobreviver e apelam para várias escolas, com cargas de até 90 horas semanais, o que é um absurdo. Além do mais, falta apoio dentro da escola. Seria importante a presença de profissionais como orientadores educacionais, psicólogos e assistentes sociais", ressaltou a sindicalista, citando a superlotação das turmas como mais um agravante.

Gesa Linhares, coordenadora geral do Sepe, por sua vez, afirmou que não existem políticas de atendimento na área da saúde para os docentes. De acordo com ela, as ações preventivas ideais seriam: piso salarial digno; um número de alunos por turma que permitisse, além da aula coletiva, atenção especial aos estudantes com dificuldade; e salas de aulas com ventilação e iluminação adequadas.

"Apesar de tudo, gostamos da profissão e queremos continuar, mas precisamos de condições efetivas para realizar nosso trabalho. Sem isso, sofreremos com o estresse emocional e doenças decorrentes da situação", lamentou a integrante do Sepe-RJ.

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