Retirado do site Revista Educação.
Educadores destacam que as famílias estão delegando à escola responsabilidades que a instituição deveria recusar
Daniel dos Santos
Rosely Sayão, Ariana Cosme e Julio Groppa: as fronteiras entre família e escola
Com pais cada vez mais ocupados e inseguros sobre a educação de seus filhos, a escola assumiu o papel que cabe à família na sociedade, o que tem trazido problemas tanto para os professores quanto para as crianças. Essa é uma das conclusões da palestra Educação Familiar, Escolar e Extra Escolar, realizada hoje (23/05) na Educar, e que teve a participação da psicóloga e consultora em educação Rosely Sayão, da educadora portuguesa Ariana Cosme e de Júlio Groppa Aquino, professor da graduação e pós-graduação na Faculdade de Educação da USP.
“Antes eu dizia que a fronteira entre escola e família era tênue. Hoje,eu digo que ela não existe mais”, destaca Rosely. Segundo ela, por pressão dos pais, que não sabem como lidar com seus filhos, a escola abraçou várias funções que não cabem a ela. “Os professores estão aprendendo até a catar piolhos das crianças”, exemplificou a psicóloga.
“É fato que as famílias estão muito perdidas. Vivemos uma crise de identidade”, avalia a educadora Ariana Cosme. “Recentemente, fui convidada a falar com um grupo de pais, na escola mais prestigiada do Porto”, lembra ela. “Fiquei surpresa pois, em uma sexta-feira à noite, encontrei um auditório cheio de pais, pessoas graduadas e que procuravam soluções para suas angústias”, conta Ariana. “Na verdade, essas pessoas não sabem ser pais. As dúvidas eram básicas e fugiam do papel da escola”, explica ela, que apontou questões como a compra de um celular para o filho ou a autorização para uma criança de nove anos assistir à novela entre as angústias paternas.
Segundo os especialistas que participaram da discussão, a escola também tem sua parcela de culpa nesse processo, pois abraçou a causa e ajuda a tumultuar as fronteiras da responsabilidade de cada um. “Nós somos cúmplices nessa união, pois aceitamos essa funções. Já a família, ao delegar, também se sente culpada”, lembra Rosely. Ela também critica a postura dos pais perante ao que desejam para o futuro de seus filhos. “Houve um tempo no qual os pais queriam que os filhos fossem pessoas de bem. Hoje eles querem que os filhos se deem bem”, destaca Rosely.
Júlio Groppa Aquino ressalta que a escola foi perdendo suas características fundamentais a partir do momento que os professores viraram gestores de projetos. “Essa ideia de que somos todos educadores cria uma cortina de fumaça. Se conseguirmos ser meros professores, está mais do que bom”, afirma. Ele aponta que atualmente há uma grande distância entre professores e alunos. “O Google acabou com a pergunta, com a angústia de não saber”. Para o educador, antes se perguntava ao professor, que transformava um tema que poderia se banal em uma resposta inteligente.
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