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06/05/2013

GOVERNO FEDERAL EXIGE CRIANÇAS NA ESCOLA, MAS NÃO FISCALIZA


Retirado do site do jornal O Globo.

Falta de merenda, material didático defasado e cancelamento de aulas são alguns dos problemas enfrentados
DEMÉTRIO WEBER, ENVIADO ESPECIAL (5/05/13 - 23h00)

Filha de beneficiária, Beatriz Granjeiro dos Santos, de 25 anos, concluiu o ensino médio, e por R$ 160 mensais, cursa pedagogia André Coelho / Agência O Globo
CAMPO FORMOSO (BA) e TIMBIRAS (MA) — O Bolsa Família exige que os filhos de beneficiários frequentem a escola, mas não diz nada a respeito da qualidade do ensino nem da infraestrutura dos estabelecimentos. Falta de merenda, material didático defasado, cancelamento de aulas, atraso do início do ano letivo e queixas de pais e estudantes foram alguns dos problemas flagrados pelo GLOBO.

Em Timbiras (MA), a diarista Maria dos Santos Lima Costa, de 31 anos, diariamente, leva e busca os filhos de bicicleta na Escola Maranhão Sobrinho. As aulas começam às 7h15m e deveriam terminar às 11h30m. No último dia 17, contudo, por falta de merenda, os dois meninos saíram às 10h30m. Maria contou isso vem acontecendo desde o início do ano. O prefeito Carlos Fabrício Souza Araújo (PRB), de 32 anos, no cargo há mais de 100 dias, culpa a administração anterior, que não teria prorrogado contratos, e diz que está sendo feita nova licitação:

— Licitação é demorada mesmo. Aqui há uma cultura de favorecimento. Quando se tenta quebrar isso, a resistência é muito grande.
Em Tiquara, na zona rural de Campo Formoso (BA), Lívia Pereira da Silva, de 9 anos, está no 4º ano do ensino fundamental, mas recebeu na Escola Municipal Nestor Carvalho do Nascimento livros didáticos do 3º ano. A mãe, Maria Lúcia Pereira da Silva, reclamou:

— Estive com a professora na escola e ela disse que o assunto é o mesmo.

Na zona urbana de Campo Formoso, Eduardo Oliveira Porfírio, de 8 anos, recebeu, em 2012, o troféu de melhor aluno do 1º ano do ensino fundamental na Creche Casulo Dr. Heraldo Rocha, que acaba de ser reformada. Ganhou forro no teto, piso de cerâmica, cadeiras e mesas para crianças. Há turmas do maternal ao 2º ano do fundamental. Na lousa branca, pincéis atômicos substituíram o giz. Não há telefone.

O livro de atividades da creche registra a premiação, mas não os nomes dos agraciados. Por causa da reforma, o ano letivo começou em 3 de abril. No último dia 24, houve reunião de planejamento pedagógico. Pelo nome, nenhuma professora identificou Eduardo, que só foi reconhecido por foto.

Sua professora, Maria Vivânia Silva Maniçoba, disse que o menino faltou à maioria das aulas este ano. A mãe dele é beneficiária do Bolsa Família.

— Vamos mandar um bilhete. Se a mãe não vier, vamos à casa dele saber o que está acontecendo — disse a coordenadora Elisângela Maria Carvalho Monteiro.

Filha de beneficiária, Beatriz Granjeiro dos Santos, de 25 anos, concluiu o ensino médio e, por R$ 160 mensais, cursa pedagogia na Faculdade de Ciência, Tecnologia e Educação, apesar de querer fazer nutrição, cujo inexistente por lá. Ela só tem aula aos sábados, das 18h às 21h, e em uma escola particular de ensino fundamental. Está no primeiro semestre e dá aulas de artes e de educação física para turmas de 5º ano do ensino fundamental da Escola Nossa Senhora Auxiliadora.


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