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10/04/2013

DESCOMPASSO DIGITAL


Retirado do site 

Comunicação
A proliferação de páginas na internet com críticas à qualidade das escolas revela a falta de canais em que os alunos possam se manifestar; unidades devem orientá-los sobre conteúdo das publicações
Graziela Massonetto

Portas sem fechadura, fios à mostra, vasos sanitários sem tampa, cadeiras e carteiras quebradas... Imagens como essas, de diversas escolas públicas brasileiras, estão sendo divulgadas na internet desde que a catarinense Isadora Faber, de 13 anos, criou a página "Diário de Classe" na rede social Facebook, em julho do ano passado. Suas publicações, que são acompanhadas por cerca de 540 mil pessoas, tratam dos problemas pedagógicos e de infraestrutura da Escola Básica Maria Tomázia Coelho, de Florianópolis (SC), onde ela estuda. Apesar da notoriedade e elogios, ela também recebeu diversas críticas, vindas tanto de professores e gestores quanto de outros alunos da unidade, incomodados com a forma de exposição dos problemas da unidade. 

Ainda assim, a iniciativa trouxe resultados - equipamentos foram consertados e a quadra reformada - e inspirou alunos de diferentes regiões do Brasil a fazer o mesmo.

Especialistas apontam que essa divulgação pública dos problemas, que incomodou muitos gestores, é a forma que os alunos encontraram para serem ouvidos pelas escolas - um indicativo de que os espaços tradicionais de gestão democrática não têm funcionado, mas também da vontade de participar dos alunos.

Na escola de Emerson da Silva Mendes, aluno do 2º ano do ensino médio em Itamaraju (BA), ventiladores e portas de banheiro foram consertados após as publicações do aluno na internet. "Logo que vi os resultados na escola da Isadora, resolvi criar a minha própria página. 

Grande parte dos problemas mostrados já foi resolvida", conta. Já Ana Vitória Radic cursa o 1° ano do ensino médio em Brasília e relata problemas com a merenda. "O lanche, que não era de boa qualidade, melhorou depois da criação da página."



Mas nem sempre os problemas são solucionados. O aluno B. N., que prefere não se identificar, cursa o 2º ano do ensino médio numa escola estadual de Castelo, no Espírito Santo, e revela seu descontentamento. "Infelizmente, ainda não conseguimos mudanças efetivas. Queremos um bom ambiente de estudo. Cansamos de apenas ser cobrados pela escola e não poder cobrar o que ela deveria cumprir e não o faz."

Comunicação
A falta de comunicação com professores, diretores e coordenadores é uma das maiores queixas dos alunos. Para muitos deles, a repercussão das páginas na internet é a única forma de serem ouvidos e o principal motivo para terem criado seus próprios Diários de Classe. "Alguns professores perguntam o que estamos publicando, mas sinto falta de conversas com a direção sobre o que precisa ser mudado. Se a imprensa não se manifesta, dificilmente as coisas mudam", diz Alisson Emanuel Gomes, que cursa o 7º ano do ensino fundamental em São Luís, no Maranhão. "Alguns funcionários apoiaram a ideia", ressalta Michael Roger de Oliveira, do 3º ano do ensino médio de uma escola de Belém (PA). "Eles sabem que qualquer melhora na escola beneficiaria todos nós. Seria muito bom para eles trabalhar com ar-condicionado nas salas, por exemplo. Por isso, muitos professores gostaram. Outros não se pronunciaram."

Para Emerson, de Itamaraju, os diários são importantes por mostrar o cotidiano das escolas. "Essa foi uma forma que encontramos para expor a situação das escolas no nosso país. É lamentável que algumas pessoas não interpretem dessa forma e achem que o que estamos fazendo é vergonhoso ou impróprio."

Ester Rizzi, advogada da Organização Não Governamental Ação Educativa, vê a proliferação de denúncias como a expressão de alunos que não têm espaço para se pronunciar na própria escola. "Talvez faltem canais de comunicação nas instituições para dar vazão a essas manifestações." Ela destaca que a liberdade de expressão é um direito garantido na Constituição Federal, mas ressalva que existem limites - principalmente quando diz respeito a pessoas, quando há críticas a um professor ou funcionário, por exemplo. "É uma grande responsabilidade fazer uma crítica pública a alguém porque a imagem, a honra e a privacidade da pessoa são protegidas pela lei."

O papel dos gestores
Faz muita diferença para a condução dos gestores entender com qual tipo de problema a escola está lidando. Uma porta que é consertada, mas sempre acaba sendo quebrada, por exemplo, pode ser tema de uma reunião aberta com os alunos para discutir a questão e fazer um acordo para que tenham mais cuidado com a estrutura da escola. Já se o problema for com um professor específico, pode ser melhor convocar uma reunião com o coordenador pedagógico, diretor, professor envolvido e o aluno. Assim, não há a exposição desnecessária de ninguém. "É importante também não tomar uma decisão sozinho. É preciso mais de uma pessoa para ouvir o aluno e o professor, de modo a tornar a reunião mais democrática", ressalta Ester.

Além disso, o conselho escolar pode se tornar um espaço de discussão ampla sobre os problemas da escola, onde toda a comunidade possa expressar suas opiniões e críticas.

Outro canal seria a própria direção e coordenação pedagógica receberem sugestões, reclamações e até mesmo petições: uma ouvidoria simplificada, que funcione como um lugar onde os alunos possam ser ouvidos. Para Ester, as instituições devem pensar em maneiras simples de receber informações da comunidade. A escola pode, inclusive, incentivar os alunos a usar meios institucionais para fazer suas manifestações. Dessa maneira, todos ganham: o aluno tem a certeza de que sua reclamação chegou à direção e a escola consegue administrar melhor as revindicações, que chegam diretamente às suas mãos.

"A represália é o pior caminho, pois mostra que a escola não aceita críticas. É preciso estar preparado para lidar com o impacto das redes sociais, não tratando as manifestações como negativas para a escola e sim como algo que permite que mudanças sejam feitas para a melhoria da instituição", explica a advogada.

Michel Carvalho, pesquisador de Comunicação e Educação da Universidade de São Paulo (USP), também defende a abertura de caminhos para discussão. "Toda escola deve criar espaços de diálogo entre professores, alunos e famílias. Esses encontros não devem se resumir a reuniões de pais ou da coordenação. Se a escola possui um grêmio estudantil, é preciso que essa organização tenha direito à voz."

Muitos problemas de infraestrutura ocorrem pela lentidão do processo licitatório. Às vezes, a falta de professores se deve ao quadro limitado de docentes e o adiamento de uma reforma à falta de repasse de verbas, então os responsáveis pela contratação e pelo repasse do dinheiro - as secretarias de Educação - devem ser cobrados. É preciso explicar aos alunos que as melhorias nem sempre dependem apenas da escola. Porém, é dever da instituição pressionar os órgãos responsáveis, por isso, gestores precisam estar sintonizados com as deliberações da Secretaria de Educação. Michel ainda recomenda que a escola fique a par das manifestações na internet para que a comunicação institucional se torne eficiente de modo a esclarecer ou corrigir informações que não correspondam à verdade dos fatos, evitando versões desencontradas ou imprecisas.

Para ele, os professores têm papel muito importante na mediação desses conflitos entre estudantes e dirigentes escolares. "Seria interessante propor atividades pedagógicas que estimulem a cidadania, como uma discussão ampla sobre a responsabilidade de cada instância escolar."

Novas tecnologias
Vani Kenski, professora da Faculdade de Educação da USP, afirma que as escolas precisam aprender a lidar com o uso da tecnologia e das redes sociais: "Estamos em um processo marcado pela transparência do que acontece atrás dos muros da escola. É uma nova forma de cultura. E é irreversível." Torna-se necessário repensar a formação dos professores, contextualizando-os com essa realidade e seus desafios. "Essa é a linguagem dessa geração. Eles usam as redes para relatar uma infinidade de coisas, inclusive as que ocorrem nas suas escolas. As críticas são uma excelente oportunidade para que as escolas conversem com os alunos sobre os problemas levantados e criem grupos colaborativos para resolvê-los."

Cabe aos professores e gestores construir um ambiente que consiga conversar com essa geração digital. Para a professora, a formação contínua dos educadores para as novas tecnologias permitiria à escola lidar melhor com esses casos, já que os docentes também estariam inseridos no mundo on-line e poderiam, inclusive, orientar os alunos sobre como aproveitar melhor a rede. "É importante que a formação inclua tanto a reflexão pedagógica quanto o aprendizado tecnológico."

Como lidar com as denúncias?
- Orientar os estudantes a evitar a exposição desnecessária de alunos, professores e funcionários.

- Acompanhar as manifestações na internet para esclarecer ou corrigir informações que não correspondam à realidade.

- Convocar os alunos para discutir as questões levantadas por eles.

- Criar grupos colaborativos para a resolução dos problemas.

- A equipe deve se mostrar aberta a sugestões e reclamações.

- Criar uma ouvidoria simplificada, onde os alunos possam ser ouvidos.

- Tornar o conselho escolar um espaço de discussão ampla sobre a escola, onde alunos e toda a comunidade escolar possam se manifestar.

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