ABAIXO-ASSINADO UMA MATRÍCULA UMA ESCOLA
A lei 2200 garante que os professores da rede estadual não podem mais ficar em mais de uma escola, entretanto o governador Cabral quer impedir que ela seja oficializada.
Clique aqui para saber mais e participar da mobilização.
Até 16/06/13 já foram 3.080 pessoas assinando.

28/05/2012

O FRACASSO DO ENSINO PÚBLICO NA CALADA DA NOITE


Retirado do site do jornal O Globo.


Rio tem 104 escolas que não aprovam nem metade de seus alunos; a maior parte delas não tem sequer prédio próprio
RUBEN BERTA
27/05/12 - 23h10


O PROFESSOR André Magliari e Andressa: jovem de 18 anos já tem filho de 2
RUBEN BERTA


Os olhos marejados da professora de sociologia Maria Teresa Mendes Ciambarella, de 60 anos, respondem bem a uma pergunta sobre o que pensa a respeito de lecionar no Colégio Estadual Professor Augusto Motta, na Penha Circular, Zona Norte do Rio. A escola é uma das 104 da rede pública carioca que, no ano passado, não conseguiram aprovar de ano sequer a metade de seus alunos matriculados no ensino médio, segundo levantamento feito pelo GLOBO com base em dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep). O número corresponde a pouco mais de um terço (37%) das 283 unidades da cidade.


— Dou aulas há 38 anos na rede pública e o que vejo aqui é um retrato do abandono pedagógico. Não há respeito com o professor — define Maria Teresa.
O Colégio Professor Augusto Motta foi o terceiro que menos aprovou no ano passado na capital fluminense: apenas 25,7% dos alunos matriculados no ensino médio passaram de ano, de acordo com os dados do Inep. No 1 ano, por exemplo, o número consegue ser ainda mais assustador: só 18,7% conseguiram a aprovação. A unidade da Penha Circular retrata bem aquele que parece ser o grande calcanhar de Aquiles da rede estadual: escolas que funcionam à noite e nem prédio próprio têm. Ocupam instalações da prefeitura do Rio, projetadas para atender aos alunos de ensino fundamental.


— Hoje (quarta-feira passada), fiz metade do meu planejamento de aula no banheiro e metade no refeitório porque a gente não tem sala de professor — completa a docente do Professor Augusto Motta.


Das 20 piores, 19 são noturnas
Das 104 escolas estaduais do Rio que não conseguem aprovar metade de seus alunos do ensino médio, 70 (67%) funcionam no período noturno em prédios que são do município. Das 20 piores no ano passado, apenas uma não se enquadra nesse perfil.



— É um problema histórico que temos na Região Metropolitana. Nessas escolas à noite, os alunos geralmente aparecem só em época de provas. A partir do início de setembro, de outubro, quando vai chegando a época de festas, há um esvaziamento ainda mais perigoso de jovens que saem para trabalhar e não voltam mais. É uma luta diária conseguir manter esse estudante dentro da escola — comenta Alan Figueiredo Marques, diretor administrativo da Regional da Zona Norte do Rio, da Secretaria estadual de Educação.


Na última quarta-feira, quando o GLOBO esteve na Professor Augusto Motta, não se ouvia o burburinho típico de uma escola cheia. Por motivos de saúde, quatro professores haviam faltado. O turno deveria começar às 18h e terminar depois de 22h30m para suas nove turmas de ensino médio regular. Mas poucos estudantes resistiram nas salas. Às 21h, depois que foi servido o jantar, praticamente ninguém ficou.


— São alunos muito carentes, de situação econômica muito desfavorável. Ano passado, não tínhamos comida quente para oferecer. Essa mudança já está melhorando o índice de comparecimento. Também estamos fazendo um trabalho de visitação nas casas para saber os motivos da evasão — defende-se a diretora Maria José da Silva Bezerra Sá, que na quarta chegou à escola pouco depois de 20h.


Na escola que teve o pior índice de aprovação no Rio (15,2%), o Colégio Estadual Marechal Estevão Leitão de Carvalho, no Engenho da Rainha, nem o jantar serve de motivação. Como a unidade não tem uma dispensa adequada para o depósito de alimentos, não há como fornecer a merenda quente. Na última terça-feira, biscoitos e laranjas eram o que havia no cardápio. A direção da escola espera concluir nos próximos meses uma reforma para começar a fornecer uma alimentação mais consistente.


— Aqui, a gente não tem nada de muito atrativo. Contamos apenas com a vontade do aluno de estudar — admite a diretora da escola, Rose Léa Silva Dias.
A unidade é nova, e os 15,2% são referentes à única turma de ensino médio regular que o colégio possuía em 2011. A diretora questiona o número. Diz que, de 50 matriculados no início do ano, 11 (22%) foram aprovados:


— Estamos cercados por oito comunidades que não foram pacificadas. Já houve um dia, no ano passado, em que olhamos para o muro da escola e havia aquela luz vermelha, da mira laser de uma arma. O Caveirão (blindado da PM) já ficou várias vezes aqui na porta. Nesses dias, é ainda mais difícil ter alunos que venham — ela diz.


A diretora admite que muitos jovens só frequentam a escola nas duas primeiras semanas ou no primeiro mês de aula:


— Há aqueles que só querem pegar o RioCard (gratuidade no transporte).
Na última terça-feira, dois ex-alunos do 1 ano do ensino médio em 2011 estavam na Marechal Estevão Leitão de Carvalho. Novamente, numa sala de 1 ano. Com cara de menina, Andressa Francisco da Silva, de 18 anos, conta que decidiu largar o emprego para se dedicar aos estudos. A decisão, no entanto, ainda é motivo de forte discussão familiar.
— Estou conversando com o meu marido para ver o que a gente faz. No primeiro bimestre desse ano, tive de novo notas ruins porque estava trabalhando — comenta a jovem que já é mãe de uma filha de 2 anos de idade.


Um dos professores de Andressa é o também jovem André Magliari, de 25 anos. Lá, ele leciona português.


— É difícil porque a maioria dos alunos trabalha. Atividades para casa, por exemplo, tenho que evitar. Mas ainda acredito que é possível — diz o professor.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Faça seu comentário.