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03 de julho de 2012 • 09h04
Pesquisas internacionais têm reforçado a hipótese de que a educação, além de contribuir para a carreira profissional e a formação das pessoas, pode trazer outro benefício a longo prazo. Segundo estudos publicados recentemente, o tempo de escolaridade é um fator importante para uma vida melhor e mais longa.
Uma experiência implementada em escolas da Suécia na década de 50, com duração de 13 anos, proporcionou a pesquisadores da Universidade de Estocolmo o método ideal para verificar a influência de anos a mais de estudo sobre o tempo de vida. Com o objetivo de avaliar o sistema escolar de nove anos antes de aplicá-lo em todo o País, colégios de 900 municípios agregaram um ano extra ao programa escolar de então; as crianças ingressavam no ensino fundamental aos sete anos e cursavam nove séries em vez de oito. Ao mesmo tempo, alguns alunos seguiam matriculados no sistema convencional e atuavam como grupo de controle para fins comparativos.
Cerca de 1,2 milhão de crianças nascidas entre 1943 e 1955 foram incluídas na pesquisa, e nos 58 anos seguintes ao início da experiência, 92 mil morreram. Dados sobre as causas e a idade da morte foram coletados até 2007 por Anton Lager e Jenny Torssander, que analisaram os efeitos do "9º ano" sobre o risco de mortalidade dos participantes em um estudo, divulgado em maio no portal online da revista americana Proceedings of the National Academy of Sciences. No grupo de pessoas que haviam cursado o ano adicional, os pesquisadores encontraram menor incidência de mortes por câncer, acidentes, isquemia cardíaca e demais causas externas reconhecidamente ligadas à educação.
Mas, embora a hipótese que associa níveis de instrução e expectativa de vida não seja uma novidade, ainda é difícil explicar por que isso acontece. "Em toda associação existem mecanismos. Nosso estudo é bastante adequado para verificar se existe uma relação causal verdadeira - e ele sugere que haja - mas não tanto para identificar qual é o mecanismo exato", explica Lager, do Centro de Estudos para Equidade na Saúde da universidade.
Os benefícios da educação não são proporcionados pelo conhecimento em si, mas pela tradução do que é aprendido em cuidado com a própria saúde e segurança, no caso dos acidentes. Para o pesquisador, níveis de instrução superiores resultam em empregos melhores, com salários mais altos e na redução do risco de vícios como cigarro e álcool. Lager também não acredita que as diferenças socioeconômicas entre países como Suécia e Brasil produziriam resultados muito diversos se uma pesquisa semelhante fosse desenvolvida no País. "As crianças da pesquisa cresceram em condições econômicas e com um PIB como o do Brasil hoje", afirma.
Políticas públicas
Os efeitos tardios da instrução adquirida nos anos iniciais sobre a expectativa de vida também foram estudados por Cleusa Ferri, professora afiliada da Escola Paulista de Medicina (USP). Cleusa foi coordenadora de um estudo que integra o programa 10/66 DRG, formado por pesquisadores de diversos países dedicados ao estudo de doenças crônicas como a demência e de mortalidade entre a população idosa.
Publicado em fevereiro no jornal de livre-acesso PLoS Medicine, o estudo analisou o efeito de fatores socioeconômicos - desde aqueles determinados em etapas iniciais da vida, como a educação, até outros definidos mais adiante, como profissão e aposentadoria - sobre as taxas de mortalidade em idosos da América Latina, Índia e China.
"No entanto, quando analisamos de forma a levar todos estes fatores em consideração juntos, observamos que a educação afeta os níveis de mortalidade no idoso independentemente destes outros fatores que ocorrem posteriormente", explica a professora. A conclusão de que a variável instrução era a única que se mantinha associada às taxas de mortalidade aponta para a importância de políticas públicas voltadas para a educação também para melhorar - e prolongar - a vida das pessoas. "Este achado sugere que acesso universal à educação pode proporcionar benefícios substanciais à saúde de gerações futuras", afirma Cleusa.
Outro motivo para o investimento na área se deve aos indícios verificados pelo estudo de que, provavelmente, a expectativa de vida estaria muito mais relacionada a fatores externos, como os níveis de desenvolvimento socioeconômico de cada país, do que a características biológicas individuais entre a população.
Brasil
Os números do último censo feito pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam um crescimento tanto da educação quanto da expectativa de vida no País: em 2010, o percentual de pessoas sem instrução ou com o ensino fundamental incompleto foi de 50,2% - índice que, em 2000, era de 65,1% -, e a esperança de vida ao nascer aumentou cerca de três anos no mesmo período. No entanto, os dados não permitem conclusões precisas, pois não existem cruzamentos ou estudos que explorem especificamente a relação entre educação e índices de mortalidade no Brasil.
Apesar disso, a coleta de dados sobre a situação escolar do País é reconhecidamente relevante: além de medir os níveis de instrução dos brasileiros, as pesquisas sobre educação fornecem dados explicativos para outras áreas. "A educação é um tema muito importante pelo escopo básico que ela dá para o entendimento de variáveis como trabalho e saúde", explica Vanderli Guerra, pesquisadora do IBGE.
Vanderli comenta que, com base nos resultados das pesquisas, o nível de instrução normalmente tem relação direta com o rendimento médio dos indivíduos. Em sua pesquisa, a professora Cleusa também cita um estudo semelhante desenvolvido em Bambuí (MG), no qual níveis de escolaridade mais baixos se apresentaram como um dos aspectos associados a taxas maiores de mortalidade entre idosos.
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