18/01/12 23:04
RIO - Especialistas ouvidos pelo GLOBO afirmam que é natural que os gastos do Brasil com alunos da educação superior sejam maiores do que com os do nível básico. Segundo eles, o custo com um estudante matriculado numa universidade é superior porque engloba, entre outras atividades, pesquisa, laboratórios e cursos de extensão. No entanto, os educadores reconhecem que o país ainda precisa investir mais na educação básica. De acordo com o Ministério da Educação (MEC), o Brasil gastou, em 2010, cinco vezes mais com um estudante matriculado no ensino superior do que com um aluno da educação básica. Em 2000, o gasto era 11 vezes maior.
- Normalmente, os gastos com a educação superior são maiores por dois motivos: incluem o custo com atividades de extensão e pesquisa, além da relação professor/aluno, e o número de matrículas é menor - explica Daniel Cara, coordenador-geral da Campanha Nacional pelo Direito à Educação:
- Países desenvolvidos investem, em média, entre R$ 15 mil e R$ 19 mil per capita por aluno, e o Brasil está nesse patamar. O importante é que não deve ser preocupação da política pública diminuir a distância. O necessário não é investir menos no ensino superior, mas expandir a rede, aumentar a qualidade, e ainda fazer com que os gastos com a educação básica cresçam.
Presidente do Todos pela Educação, Priscila Cruz lembra que a grande maioria dos países investe mais em educação superior e diz que seria "leviano" afirmar que o ideal seja equiparar o investimento:
- Bom seria o investimento per capita na educação básica aumentar. Se as escolas fossem, por exemplo, equipadas com laboratórios de química, física e biologia, o valor seria maior. O investimento deveria corresponder a uma educação de qualidade.
De acordo com dados do Censo, em 2000, o investimento público direto por estudante na educação básica era de R$ 1.533. Ano passado, o investimento foi de R$ 3.580.
- Levantamento mostra que, em 2000, 3,9% do PIB eram aplicados na educação, e 3,2% iam para a educação infantil, fundamental I e II e ensino médio. Em 2009, dos 5% do PIB, 4,3% iam para a educação básica. Houve mais investimento, mas ainda é preciso aumentar os gastos, especialmente na educação infantil - diz Priscila.
EUA gastam US$ 9 mil por aluno
Bertha do Valle, professora da Faculdade de Educação da Uerj, também afirma que é preciso gastar mais na educação básica, e diz que o baixo investimento acaba refletindo no ensino superior:
- Os alunos das escolas públicas muitas vezes chegam semianalfabetos ao ensino médio e não chegam às universidades públicas, que têm boa parte das vagas ocupada por alunos de escolas particulares e de algumas federais. Falta investir nos anos iniciais, assim como falta investir nos profissionais.
Segundo Daniel Cara, é preciso ainda levar em consideração que os dados do MEC apresentam uma média:
- Então, no Norte, o investimento num aluno da educação básica e até da superior podem ser menores. Por conta disso, o Brasil tem é que pensar em diminuir as desigualdades entre as regiões, além de aumentar o valor aplicado. Os EUA gastam até US$ 9 mil por aluno na educação básica. Poderíamos estar investindo R$ 4.500 por estudante. O Brasil ainda tem um longo caminho a percorrer.
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