Retirado do blog Cheguei no município é agora?.
Fiquei muito impressionado e tocado nesse relato sincero e compromissado com a profissão de professor.
QUINTA-FEIRA, 11 DE OUTUBRO DE 2012
INVISIBILIDADE
A invisibilidade consiste, para nós, seres humanos na incapacidade da luz não ser absorvida e nem refletida em um objeto. Sabemos que esse fenômeno ainda é desconhecido na natureza e, por isso, o vemos tão explorados em filmes de conotação científica.
Conhecemos o fenômeno da INVISIBILIDADE SOCIAL termo aplicado quando seres humanos são socialmente ignorados por conta do preconceito ou da indiferença.
E no contexto escolar?
É possível um aluno passar 8 (oito) anos inserido no universo escolar e NUNCA ser notado?
Vamos a história:
Esse aluno chegou ao projeto em que trabalho pouco depois de mim, ou seja, no mês de abril. Ele é um aluno muito faltoso e, por isso, demorei a conseguir avaliá-lo. Assim que o fiz, descobri que era analfabeto. Nada inédito. Inadequado em se tratando do projeto em que atuo, mas não inédito e já comentei sobre isso em outras publicações.
Enfim, começamos o trabalho com ele.
Alfabetizar não é tarefa para todos, ao contrário, é tarefa para muito poucos. De preferência para os melhores. Ainda mais quando se trata de uma alfabetização tardia.Não sou apta a essa tarefa. Nunca me especializei nisso. Não sou professora primária e, portanto, não tenho o aparato técnico, tecnológico, ou seja as ferramentas necessárias para isso e muito menos os saberes também necessários para essa tarefa. A mim restava apenas pedir ajuda a colegas alfabetizadores e o conhecimento empírico, afinal, se um dia eu fora alfabetizada sabia como fora feito comigo. E com esse saber, copiando as técnicas que foram aplicadas em mim, e constantemente lembrando Paulo Freire quando disse: "e foi aprendendo socialmente que, historicamente, mulheres e homens descobriram que era possível ensinar", tentei e tento reproduzir no aluno em questão.
Entretanto o jovem em questão, digo jovem porque ele fará 16 anos agora em novembro, não respondia ao trabalho conforme o esperado. Ensinávamos e automaticamente ele se esquecia de tudo o que aprendera. Observei a ficha do aluno e constava uma observação: "PROBLEMAS NEUROLÓGICOS". Chamei o responsável que me informou que seu filho já passara por tratamento uma junta de psicólogos e fonoaudiólogo quando pequeno em um projeto social do bairro. Mas, quando atingiu a idade limite do projeto não fora encaminhado a outro local. Simplesmente encerraram o tratamento e ponto. Segundo o pai, o filho até melhorou a letra e a fala durante o tratamento, mas não conseguira aprender a ler naquela ocasião também. Após esclarecimentos o pai comprometeu-se a procurar um neurologista para uma averiguação mais profunda no filho. E eu comecei a investigação sobre a vida escolar desse menino. E foi aí que descobri que, na contramão da ciência, a invisibilidade existe.
Esse menino está na escola desde 2004. Ele é o filho mais velho da aprovação automática! Chegou ao sexto ano sem a leitura de UMA PALAVRA SEQUER! Até aí COMUM em se tratando de outros inúmeros casos iguais. Entendam que disse COMUM e não NATURAL. Não trato o fato com o conformismo imobilizante que muitos colegas fatalistas o fazem. O velho discurso de "é assim mesmo.....o que posso fazer?" NÃO! Nego-me a isso! Falo de algo COMUM no sentido lato, ou seja, casos que vemos com dois ou mais de dois alunos constantemente na educação municipal.
Ao buscar nas 4 escolas da rede municipal por onde esse aluno passou desde 2004 um relatório sobre o aluno. Algo que falasse sobre sua dificuldade de aprendizagem ou sobre uma possível avaliação anterior, descobri que NADA fora feito até hoje! NENHUM professor, dos inúmeros professores aos quais ele conviveu por pelo ao menos um ano letivo inteiro durante o ensino fundamental, viram-no. Observaram-no em sala de aula.
Ele é um aluno muito tranquilo. Calado quase o tempo todo. Quando não, ele dorme. dorme como que quisesse fugir da vida.Seu silêncio o tornou realmente INVISÍVEL. A única informação que obtivemos é que, quando menor, ele viu seu irmão ser assassinado na sua frente. E mesmo depois desse duro golpe da vida, ele continuou INVISÍVEL. Hoje ele já é usuário de maconha e pratica pequenos furtos.
Estou lutando, em meio as inúmeras burocracias da rede para submetê-lo a um avaliação e, assim, incluí-lo como um aluno integrado.Isso significaria um tratamento diferenciado para ele. Conteúdos diferenciados e métodos de avaliação diferenciados. É um processo difícil e demorado conseguir essa inclusão. Lento mesmo. Não há parceria da Secretaria de Educação com a Secretaria de Saúde nem em casos mais sérios assim. Mas continuo tentando.
A luz desse aluno refletiu em mim ou a minha luz refletiu nele. Não sei. O que importa é que EU O VI eu vou tentar fazer alguma diferença.
Ao buscar nas 4 escolas da rede municipal por onde esse aluno passou desde 2004 um relatório sobre o aluno. Algo que falasse sobre sua dificuldade de aprendizagem ou sobre uma possível avaliação anterior, descobri que NADA fora feito até hoje! NENHUM professor, dos inúmeros professores aos quais ele conviveu por pelo ao menos um ano letivo inteiro durante o ensino fundamental, viram-no. Observaram-no em sala de aula.
Ele é um aluno muito tranquilo. Calado quase o tempo todo. Quando não, ele dorme. dorme como que quisesse fugir da vida.Seu silêncio o tornou realmente INVISÍVEL. A única informação que obtivemos é que, quando menor, ele viu seu irmão ser assassinado na sua frente. E mesmo depois desse duro golpe da vida, ele continuou INVISÍVEL. Hoje ele já é usuário de maconha e pratica pequenos furtos.
Estou lutando, em meio as inúmeras burocracias da rede para submetê-lo a um avaliação e, assim, incluí-lo como um aluno integrado.Isso significaria um tratamento diferenciado para ele. Conteúdos diferenciados e métodos de avaliação diferenciados. É um processo difícil e demorado conseguir essa inclusão. Lento mesmo. Não há parceria da Secretaria de Educação com a Secretaria de Saúde nem em casos mais sérios assim. Mas continuo tentando.
A luz desse aluno refletiu em mim ou a minha luz refletiu nele. Não sei. O que importa é que EU O VI eu vou tentar fazer alguma diferença.
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