18/10/201209h24
Valéria Dias
Da Agência USP de Notícias
Da Agência USP de Notícias
A renda familiar, a escolaridade dos pais e outros fatores socioeconômicos explicam 80% da média das escolas com mais de 10 alunos prestando o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio). Os outros 20% podem ser creditados ao mérito da própria escola.
Esses resultados foram obtidos pelo pesquisador Rodrigo Travitzki, doutorando da Faculdade de Educação da USP (Universidade de São Paulo) ao analisar dados do Enem dos anos 2009 e 2010 para sua pesquisa de doutorado. O objetivo do estudo era saber até que ponto o ranking de escolas do Enem tem validade como indicador de qualidade escolar.
CRÍTICA
As escolas começam a se preocupar mais com os bons resultados em testes e podem começar a esquecer de outros elementos importantes para o aprendizado, como a inteligência emocional e a capacidade de trabalhar em grupo
Rodrigo Travitzki, doutorando da Faculdade de Educação da USP
“O ranking atual serve mais para as elites do que para o governo e a sociedade, pois as escolas melhor colocadas são aquelas cujos alunos tiveram as melhores notas. Mas se a escola recebe no ensino médio um aluno bom cuja nota da prova também foi boa, significa que ela manteve a qualidade do aluno ao longo do período", diz.
"Entretanto, quando a escola recebe um aluno péssimo, mas que na prova do Enem consegue um resultado mediano, significa que ela conseguiu melhorar o aluno ao longo dos anos, fato que atualmente não é considerado no ranking”, completa o pesquisador, que leciona Biologia para o ensino médio.
Para Travitzki, o ranking de escolas atual fornecido pelo Enem pode empobrecer a educação brasileira por dois motivos. “As escolas começam a se preocupar mais com os bons resultados em testes e podem começar a esquecer de outros elementos importantes para o aprendizado, como a inteligência emocional e a capacidade de trabalhar em grupo, por exemplo. O segundo ponto é que o ranking tende a aumentar as desigualdades, pois favorece as escolas que tiveram as melhores notas e prejudica as que tiveram notas ruins.”
A pesquisa está sendo realizada para o doutorado-sanduíche de Travitzki pela Faculdade de Educação da USP (Universidade de São Paulo) e pela Universidade de Barcelona, na Espanha. De abril a agosto de 2012, o pesquisador esteve na universidade espanhola onde trabalhou com os microdados do Enem coletados por meio do site do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira). Os dados obtidos após o processo de filtragem são de cerca de 1 milhão de alunos para cada ano.
Travitzki analisou especificamente o questionário que os alunos respondem com informações sobre a situação sociocultural e econômica da família, como renda familiar e escolaridade dos pais, e que permite identificar o perfil dos participantes. Com base nesta análise, Travitzki está propondo um outro ranking de escolas para o Enem.
“A ideia é ranquear as escolas com base na nota do Enem de formas mais justas, equitativas, e informativas. O que eu proponho é um modo novo de olhar para o ranking”, destaca o professor. A divulgação do novo ranking deverá ocorrer em março de 2013, quando está prevista a defesa da tese.
Dentro da ótica do novo ranking, uma escola de periferia, que ocupa um lugar desfavorável no ranqueamento atual, pode ser muito melhor conceituada na análise realizada por Travitzki caso tenha alunos com uma boa pontuação no Enem.
Enem
O Exame Nacional do Ensino Médio foi criado em 1998, durante o governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso com o objetivo de fornecer uma avaliação do ensino médio brasileiro. Na gestão do ex-presidente Lula (e que se estende aos dias atuais, na gestão da presidenta Dilma Rousseff), a nota do Enem passou a ser utilizada para a conquista de vagas em universidades privadas – via Prouni (Programa Universidade para Todos) por meio da concessão de bolsas de estudo em cursos de graduação -, e também na conquista de vagas em universidades federais brasileiras.
O ranking das escolas é divulgado desde 2006 e é baseado nas notas dos alunos no exame. A prova é composta por 45 questões de 4 áreas do conhecimento, totalizando 180 questões.
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