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03/06/2012

CRISE PODE TIRAR CABRAL DOS PALANQUES ELEITORAIS


2/06/12 - 19h16

Retirado do site do jornal O Globo.


Redução da agenda pública sinaliza que o governador será discreto em campanha
CHICO OTAVIO - CÁSSIO BRUNO

Governador do Rio de Janeiro Sérgio CabralDIVULGAÇÃORIO - Dias atrás, um político da Baixada Fluminense ligou para o governador Sérgio Cabral (PMDB) e o convidou para a inauguração de uma unidade de ensino profissionalizante na região. Pelo alcance social do projeto, seria um discurso fácil, mas Cabral refutou.

— Por enquanto, quero ficar quietinho — agradeceu.

A 10 dias do início das convenções que definirão os candidatos a prefeito dos municípios fluminenses, o gesto do governador fortaleceu uma convicção que prospera entre aliados: Cabral, cuja agenda pública minguou com a crise envolvendo a empreiteira Delta, será um eleitor discreto em outubro e praticamente não subirá em palanques.

Em lugares como Duque de Caxias e Nova Iguaçu, onde haverá disputa entre partidos da base governista, a ausência de Cabral era esperada antes mesmo da crise. Porém, até nos municípios onde os aliados marcharão juntos, como na capital, o governador deverá manter distância. Antecipando-se, o prefeito Eduardo Paes, candidato à reeleição, começou discretamente a mudar o eixo da campanha, que abandonou a bandeira da parceria município-estado-União para destacar obras de sua administração.

A inauguração de uma UPP no Complexo do Alemão evidenciou o ânimo do governador à exposição pública. Confrontado com uma pergunta sobre a CPI do Cachoeira, reagiu rispidamente, acusando o repórter de faltar com o respeito. Os aliados, que apostavam na força de Cabral para alavancar candidaturas, hoje estão inseguros de levá-lo aos palanques.
Provável candidato à sucessão estadual em 2014, o vice-governador Pezão perderá, com o recolhimento de Cabral, a oportunidade de ganhar mais visibilidade. Seus potenciais adversários não ficarão parados. Enquanto o senador Lindberg Farias (PT) turbina uma agenda de cabo eleitoral de luxo nos quase 40 municípios onde os partido terá candidatos próprios, o ex-governador e deputado federal Anthony Garotinho (PR) promete lançar candidatos próprios em 70 municípios. Na capital, a filha, deputada estadual Clarissa Garotinho, será vice na chapa de Rodrigo Maia (DEM).




Cabral, procurado, não quis se manifestar.
Para escapar da CPI, Cabral recorre a Aécio
No recolhimento forçado, Cabral causou pelo menos duas surpresas aos aliados. A primeira foi a iniciativa de reaproximar-se do deputado federal Eduardo Cunha (PMDB-RJ), com quem mantinha relação conflituosa. Durante a crise, os dois se encontraram. Foi a Polícia Civil de Cabral que, há três anos, colheu a voz de Cunha em gravações telefônicas durante a Operação Alquila, lançada para investigar um esquema de fraude fiscal envolvendo a Refinaria de Manguinhos. O grampo custou a Cunha a dor de cabeça de enfrentar um inquérito no Supremo Tribunal Federal (STF). Agora, o mesmo Cunha se movimenta para tentar blindar o governador nos desdobramentos da CPI do Cachoeira.
A segunda surpresa foi uma inesperada visita à deputada estadual Cidinha Campos (PDT-RJ), que recuperava-se em casa de uma cirurgia. Quem conhece a rotina do governador, sabe que nunca sobra tempo na agenda para receber parlamentares. Paulo Duque, que o substituiu no Senado Federal quando Cabral concorreu ao governo, em 2006, reclamava na época de só ter recebido um único telefonema do governador, embora tivesse sido leal e não mudado um único funcionário do gabinete.


Cabral também usou o deputado federal Leonardo Picciani (PMDB) para acompanhar de perto todos os movimentos da CPI. O parlamentar é filho de Jorge Picciani, ex-presidente da Assembleia Legislativa do Rio, de quem Cabral até então mantinha divergências quanto ao rumo do PMDB nas eleições do Rio. O governador também recorreu ao senador Aécio Neves (PSDB). O tucano convenceu três dos cinco integrantes do partido a votar contra a convocação de Cabral para depor na comissão. O peemedebista foi dispensado da CPI por 17 votos a favor e 11 contra.
— O Aécio foi fundamental neste processo — disse um aliado de Cabral.


Na capital, os adversários do prefeito Eduardo Paes estão divididos sobre usarem ou não na campanha eleitoral fotos e vídeos divulgados em abril por Garotinho onde aparecem Cabral e secretários estaduais — alguns deles flagrados dançando com guardanapos na cabeça — em passeios e jantares em restaurantes de luxo em Paris, em 2009.


— Não adianta agora o Paes dizer que não tem nada a ver com Cabral. Eles têm o mesmo projeto de poder. As imagens (de Paris) serão mostradas no meu programa, mas sem baixarias — disse o deputado estadual Marcelo Freixo, pré-candidato a prefeito pelo PSOL.
Já Rodrigo Maia, do DEM, afirma não querer a “política do confronto”, apesar de ter Garotinho como aliado:


— Este material de Paris já foi fartamente divulgado. Não será necessário usar.

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