A inevitáveis fraudes nesses sistemas de avaliação já foi longamente debatida no livro "Vida e Morte do Grande Sistema Escolar Americano. Como os Testes Padronizados e o Modelo de Mercado Ameaçam a Educação", da autora Diane Ravitch.
Na comunidade Professores do Estado RJ no orkut tem um debate com vários parágrafos dessa obra. Vale a pena dar uma olhada. Clique na imagem abaixo.
Professores do Estado do RJ |
Desempenho nota 10 para 100% da turma é raro, dizem especialistas
Alunos de escola acusada de fraude no Saresp tiveram nota máxima em matemática. Melhora dependeria de mudanças estruturais
O fato de todos os 27 alunos do 5º ano do ensino fundamental da escola estadual Reverendo Augusto da Silva Dourado terem tirado nota máxima na prova de matemática do Saresp é visto como um caso raro por especialistas em educação. Nesta segunda-feira, o iG revelou que alunos da escola que tirou a nota mais alta no Índice de Desenvolvimento da Educação de São Paulo (Idesp) afirmam ter tido ajuda de professores durante o Saresp, prova de português e matemática que avalia o desempenho dos estudantes e base para o cálculo do bônus dos docentes.
Foto: Marina Morena Costa/iG
Fachada da escola Reverendo Augusto da Silva Dourado que é acusada de fraude no Saresp
De acordo com o boletim da escola, que teve nota 9,3, a média de seus alunos foi 10 em matemática e 9,13 em português. Em 2010, a nota dos alunos da Reverendo Augusto da Silva Dourado havia atingido 6,94 em matemática, e 5,55 em português. No ano anterior, eram menores ainda, 2,13 em matemática e 4,53 em português. Nas últimas três avaliações, todos os estudantes da escola fizeram o Saresp, segundo os boletins.
Romualdo Luiz Portela de Oliveira, professor doutor do Departamento de Administração Escolar e Economia da Educação USP, avalia que é raro todos os estudantes de uma turma tirem a nota máxima em matemática, dada à heterogeneidade dos grupos. “Mas é possível”, pondera. Nenhuma outra unidade do Estado teve desempenho nota 10 em nenhuma das duas disciplinas.
A doutora e especialista em psicologia da educação Silvia Colello estranha o desempenho 100% em matemática, mas avalia que saltos no desempenho são possíveis, desde que a escola tenha passado por uma mudança estrutural. “Tecnicamente a possibilidade de crescimento existe, mas não acontece por milagre, depende de um investimento em toda a estrutura da escola, no projeto pedagógico e na relação com o professor”, destaca. A escola teve Idesp 3,21, em 2009, 6,07, em 2010, e saltou para 9,3, no ano seguinte.
Bônus
Como a bonificação dos professores e funcionários está ligada ao desempenho dos estudantes na rede estadual de São Paulo, a pressão por melhores resultados é grande. “Em função dessa supercobrança, abre-se a perspectiva para a fraude. Mas não dá para endossar uma denúncia sem apuração”, aponta Silvia.
O professor da Universidade Federal de Mina Gerais (UFMG) e um dos maiores especialistas em avaliações educacionais de larga escala do País, Francisco Soares, defende o destaque de escolas e projetos que conseguem garantir mais efetivamente os direitos dos alunos a uma educação de qualidade. “Mas isso não deve ser confundido com políticas de carreira e salarial”, salienta.
Soares foi um dos idealizadores de um programa de bônus da rede de ensino da Prefeitura de São Paulo, que leva em conta o nível socioeconômico dos alunos e também os resultados dos dois anos anteriores. “Ou seja, o aprendizado de alunos que trazem menos de casa é mais valorizado. O Idesp não tem estas duas características o que o fragiliza”, opina.
Para a presidente do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp), Maria Izabel Noronha, o sistema de bonificação é falho por não considerar as diferentes condições de trabalho dos professores. “O bônus compra resultado. O professor sabe que vai sobrar para ele se a nota não for a esperada. E o contrário também acontece, alunos que não gostam do professor não respondem a prova”, avalia.
A reportagem tentou contato com a direção da escola, mas não obteve sucesso.
Investigação
A Secretaria Estadual de Educação disse na última segunda-feira, após a publicação das denúncias, que pedirá esclarecimentos à Fundação Vunesp, responsável pela aplicação do Saresp. Mesmo avisada sobre os depoimentos de pais e alunos, a pasta afirma que, de acordo com os seus registros, professores de outras escolas aplicaram o Saresp na Reverendo Augusto da Silva Dourado. Pode haver punição administrativa e penal.
O Ministério Público Estadual de São Paulo em Sorocaba decidiu investigar o caso na última terça-feira, após tomar conhecimento das denúncias pela reportagem do iG.
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